Em resposta direta às críticas que a política de juros praticada pelo Banco Central vem sofrendo do pré-candidato à presidência, José Serra (PSDB), o presidente da instituição Henrique Meirelles, em sua participação hoje de manhã no 2º EXAME FÓRUM, usou um tom assertivo: "Medidas voluntaristas do Banco Central não levam aos resultados desejados”. Como argumento, Meirelles descreveu, desde 2002, a trajetória comparada das taxas Selic e dos juros reais. "No final de 2002 a Selic chegou ao patamar máximo, porém a partir desse marco os juros reais iniciaram sua trajetória de queda”. O presidente do BC enalteceu a política monetária e fiscal empreendida em sua gestão. "Ao contrário do que era feito no passado, quando o normal era apertar a política monetária em tempos de turbulência, o que fizemos durante a crise foi injetar liquidez.” Em sua apresentação, para ilustrar essa gestão de crise eficiente, um dos pontos mais reverenciados no segundo mandato do governo Lula, Meirelles mostrou diversos índices econômicos que constatam uma recuperação rápida e consistente da economia brasileira. Como destaque está a taxa de desemprego do IBGE, que ficou registrada em 7,1% no mês de março, atingindo um patamar inferior ao pré-crise. O crescimento da produção industrial pelo 15º mês consecutivo e a atração de investimentos estrangeiros que podem chegar a 20 bilhões de reais a mais que o ano passado também foram números expostos pelo ministro. Meirelles ainda previu para 2014 uma redução de 7,5% da dívida pública líquida/PIB em relação ao ano de 2009. Para o mesmo ano, estimou que mais 36 milhões de brasileiros adentrarão na classe média e 14,5 milhões passarão a viver acima da linha da pobreza. A atuação do BC foi elogiada pelo economista e presidente da RGE Monitor, Nouriel Roubini, também presente no evento. "O Brasil é um país que possui um Banco Central comprometido com a supervisão fiscal e monetária, e ainda passa segurança em relação a reservas cambiais.” Segundo Roubini, o país deve reagir bem às últimas ondas de crise que têm varrido a Europa e ameaçado mercados no mundo todo. "A maior parte dos países em desenvolvimento tem que lidar com problemas bem administrados pelo Brasil, caso da dívida pública. A crise que se observa nesses países é uma recessão de balança com excesso de dívida por parte do setor privado, e a socialização desse prejuízo trouxe um custo muito alto às economias.” Grécia é apenas a ponta do iceberg Para Roubini, a tendência de crescimento nos países emergentes não é um reflexo provisório resultante da crise, mas sim uma mudança em curso na geopolítica mundial. "Hoje em dia, não faz sentido falar sobre G7. O G20 está assumindo cada vez mais representatividade, é uma transição que se consolida para o futuro.” Nesse sentido, a projeção para a economia mundial não é das mais otimistas. "A Grécia é apenas a ponta do iceberg. Tanto a zona do Euro quanto os EUA devem se recuperar da crise em formato ‘W’.” Segundo ele, os países estão numa encruzilhada. "Para sair da crise, os países não podem abrir mão dos estímulos fiscais, mas ao mesmo tempo possuem dívidas públicas monstruosas.” O economista atenta para os problemas de superaquecimento da economia brasileira. "A política fiscal deve ser severa, o governo pode controlar crédito para setores que já se encontram aquecidos. Há um risco de déficit de conta corrente por conta da valorização excessiva do real, o que demanda mais entrada de capital.” Sobre o futuro do Brasil, Roubini se mantém otimista, pois considera-o um país diferenciado em relação aos demais membros do BRIC. "A estrutura da economia brasileira é diversificada e ainda há a perspectiva do país expandir sua oferta de petróleo.” Porém, ele mantém reservas quanto à possibilidade do Brasil manter um crescimento sustentado para um longo prazo. "O crescimento real do Brasil está projetado para 6,5% em 2010, enquanto o crescimento potencial está abaixo, em torno de 4,5%. Para que o crescimento ocorra sem saltos na inflação, esse ritmo deve ser o inverso, mas não é o que acontece: o Brasil ainda apresenta uma necessidade de reformas para aumentar a eficiência do governo e diminuir a informalidade da economia.”  Fonte RLC Press e foto Cláudio Rossi |